Web Summit: mais do que tecnologia

07-11-2017 13:52

 

Lisboa recebe esta semana mais uma edição do evento mundial Web Summit, que juntará mais de 60.000 pessoas de 160 países, incluindo cerca de 1000 oradores, 1500 investidores e mais de 2000 jornalistas nas áreas das tecnologias, empreendedorismo, capital de risco e inovação. Se há alguns anos um evento com estas caraterísticas e dimensão era quase impensável que se realizasse no nosso país, atualmente é uma coisa natural. Olha-se lá fora para Portugal como um bom sítio para criar uma empresa – nomeadamente de base tecnológica – e para trabalhar. Não é por acaso que Portugal é cada vez mais escolhido por multinacionais tecnológicas como destino de investimento, não só em centros de competências, mas também em centros de investigação e desenvolvimento. Além disso, o nosso país tem sido frequentemente eleito como espaço de demonstração e de teste de produtos e serviços inovadores à escala global.

São várias as razões apontadas para que isto aconteça. A imagem de Portugal tem melhorado nos últimos anos: trendy, cooltech ou welcoming são algumas das palavras associadas ao nosso país por quem nos visita. Portugal é atrativo não só para fazer negócios, para visitar, mas também para viver. Temos infraestruturas físicas e digitais de qualidade, jovens qualificados nas áreas tecnológicas, com boas competências linguísticas e soft skills, adaptabilidade das empresas e trabalhadores ao mundo global, boa relação custo-qualidade do país e do fator trabalho, estabilidade política, segurança, um bom sistema de ensino e de saúde e qualidade de vida. E temos, atualmente, políticas públicas progressistas que olham para a ciência e a inovação como principais fatores de desenvolvimento a prazo.

Durante uma semana Portugal será o centro das atenções no mundo digital e tecnológico. Contudo, o grande desafio de eventos com projeção mundial, como é o Web Summit, é conseguir captar o máximo possível de retorno a médio e longo-prazo. Se a curto-prazo se estima um impacto económico para o país de cerca de 300 milhões de euros, nos anos seguintes o impacto terá de ser visto em termos de contributo para um maior valor acrescentado da atividade económica do nosso país.

Neste aspeto, o Web Summit pode ter um papel importante na capacitação do sistema nacional de inovação: i) ao estimular a alteração do perfil de especialização da economia portuguesa, com as start-ups a contribuírem mais que haja cada vez mais empresas em atividades de média-alta e alta tecnologia, mas também com um maior impulso para que a “digitalização” beneficie as empresas que atuam em setores menos tecnologicamente intensivos; ii) ao alargar os mecanismos de financiamento à inovação (cujo mercado privado é ainda muito reduzido) nomeadamente nas áreas de capital semente, capital de risco e capital de expansão; iii) ao contribuir para a existência de mais atores no sistema de inovação, com competências diversas e com redes de contacto internacionais, importantes para dinamizar os fluxos de conhecimento e tecnologia entre as entidades localizadas em Portugal e no resto do mundo.

Embora haja ainda muito a fazer, pode-se afirmar que estamos a criar as condições para que se consiga capitalizar os benefícios do Web Summit. Temos start-ups já com algum sucesso a nível internacional (muitas delas com origem nas universidades e outras entidades do sistema científico e tecnológico), mecanismos e estruturas (públicas e privadas) de apoio ao empreendedorismo, empresas cada vez mais cientes de que a cooperação, a colaboração e a partilha são essenciais para vingarem nos mercados globais. E temos, atualmente, políticas públicas progressistas que olham para a ciência e a inovação como principais fatores de desenvolvimento do país a prazo. E isto é essencial.

 

Artigo originalmente publicado em Jornal Económico.