Uma nova Europa ou um caminho sem retorno?
Parece evidente que estamos a chegar a um ponto de dificil retorno na União Europeia em termos politicos, económicos e sociais, que pode colocar em causa o projeto europeu construido ao longo dos últimos 50 anos. Se é verdade que são os cidadãos europeus que elegem os seus lideres (de forma direta ou indireta) tendo, por isso, uma clara responsabilidade nessa escolha, é também verdade que existe assimetria de informação entre os cidadãos e entre estes e os seus representantes (daí a importância dos instrumentos que estimulam a participação dos cidadãos nos processos de decisão e das entidades de "fiscalização" independentes, como os media ou o sistema de justiça). Mais grave, é a ausência de mecanismos eficazes de "controlo" da sociedade para com os seus eleitos, nomeadamente quando se tratam de decisões que não foram alvo de sufragio e que podem ter um impacto profundo no futuro dessas mesma sociedades. A democracia tem de funcionar aquando do processo de eleição, mas também aquando da responsabilização e "prestação de contas" dos eleitos para com os eleitores.
Após a descoberta de esquemas fraudulentos e corruptos no sistema financeiro, em 2007/2008 (hoje já provados), e que tiveram um impacto profundo na Europa, ao exigir uma intervençao das politicas públicas sem precedentes - primeiro, com a orientação política na União Europeia para a nacionalização (total ou em parte) dos Bancos "mal comportados", com consequente aumento de défice e divida publica, e depois com a imposição politica de planos de austeridade - tornou-se evidente que os "mercados" não poderão mais funcionar sem que a moral e a ética seja um ponto central nas decisões das pessoas que constituem esses "mercados", nem sem mecanismos de transparência e de responsabilização em relação ao processo de tomada de decisão. É também claro que é essencial um maior empowerment dos cidadãos (e dos movimentos sociais), bem como uma maior qualidade dos líderes europeus e do escrutíneo das suas ações. Se olharmos para o que neste momento se está a passar na União Europeia, torna-se evidente a urgência destas questões.
Receio que, sem haver resposta a estes problemas, não teremos uma politica (económica e social) com ambição, mobilizadora e orientada para dar resposta aos problemas das sociedades europeias, nem será retomada a agenda (esquecida) do emprego, do crescimento inteligente, verde e inclusivo e do desenvolvimento sustentável. A politica é feita de escolhas e de visão de futuro, que parece ser o que falta neste momento no atual quadro politico europeu.