Uma abordagem de Inovação Aberta sobre as TIC na Administração Pública

06-10-2013 17:02

 

As práticas de Inovação Aberta têm sido tradicionalmente estudadas ao nível da empresa, sendo milhares os artigos produzidos nos últimos 10 anos sobre esta temática. Se é verdade que há um conjunto de características (condicionantes) das empresas que têm impacto sobre a adoção da inovação aberta, é também verdade que há uma série de fatores contextuais com impacto significativo, que variam consoante os espaços competitivos onde a empresa atua.  

Um desses fatores são as políticas de eGovernment, ou seja, as estratégias de simplificação Administrativa e modernização dos serviços da Administração Pública (AP), suportadas nas Tecnologias de Informação e Comunicação podem influenciar de forma positiva ou negativa a adoção da inovação aberta pelas empresas, em especial nas de menor dimensão (PME). Por exemplo:

  • Através da disponibilização à sociedade e às empresas do conhecimento gerado pelos organismos da AP ou por si financiados (open knowledge/open access) ou de dados públicos de interesse geral, sobre os quais as empresas possam criar valor económico (open data);
  • O desenvolvimento de soluções tecnológicas baseadas em soluções tecnológicas não-proprietárias (open source), em formatos abertos (open standards), bem como de infraestruturas neutras tecnologicamente (open connectivity) são importantes para estimular o desenvolvimento de novos produtos e serviços, especialmente por PME e empresas start-ups;
  • A adoção de uma política de proteção da propriedade intelectual mais flexível, (creative commons, licenciamento, etc.) - como grande comprador de tecnologias, o Estado pode encorajar a comercialização das tecnologias desenvolvidas em setores onde o Estado é o maior cliente;
  • A importância do desenvolvimento de serviços e soluções pela AP com o envolvimento dos cidadãos, através de processos de desenvolvimentos colaborativos (co-creation), prática cada vez mais frequente no âmbito das políticas de modernização administrativa, implicando que a tradicional gestão da AP (top-down) caminhe no sentido de um modelo de rede e colaborativo;
  • De referir o papel importante das “compras públicas eletrónicas” (eProcurement), que têm sido desenvolvidas um pouco por toda a UE27, e que são fundamentais para estimular a inovação do lado da procura.

 

Em muitas destas áreas, Portugal tem estado na linha da frente, sendo vários os reconhecimentos e prémios nacionais e internacionais atribuídos por entidades como o Banco Mundial ou a Comissão Europeia a muitas das iniciativas desenvolvidas no âmbito dos programas (extintos em 2011) SIMPLEX ou do Plano Tecnológico. Iniciativas como “Empresa na Hora”, Dados Abertos “dados.gov.pt”, “Licenciamento Zero” ou o “Balcão do Empreendedor” são alguns desses exemplos que merecem reconhecimento internacional.

 

Contudo, há que ter em conta um conjunto de desafios com que a AP se defronta, e que são importantes para a criação de condições de enquadramento para a adoção da inovação aberta. Por exemplo, qual o impacto dos serviços cloud na disponibilização de serviços públicos (cloud Government)? E que políticas de segurança e de privacidade devem ser adotadas pela AP? Como evitar o monopólio da informação por parte das empresas privadas? Como medir a eficácia das estratégias de eGovernment sobre a competitividade das empresas?...

 

Estas questões são importantes na atual conjuntura de restrição orçamental presente na UE27, onde se pode colocar em risco muitos dos avanços conseguidos nestas áreas, dada a visão de curto-prazo que impera. Em política pública, há que definir prioridades e fazer escolhas, e é pena se o eGovernment não fizer parte dessas prioridades…

 

Resumo da Comunicação ICT in Public Administration: an Open Innovation Approach, apresentada por António Bob Santos no International Council for Information Technology in Government Administration (ICA), que ocorreu entre 1-3 de outubro de 2013, em Lisboa.