Portugal retrocede 7 anos na inovação
A edição mais recente do ranking europeu de inovação (IUS 2015 – Innovation Union Scoreboard) mostra que Portugal recuou 7 anos em termos de inovação, se considerarmos o seu posicionamento relativo na União Europeia (UE). Tendo existido um período de convergência entre 2006-2010, em que Portugal passou de 22º país europeu mais inovador para 15º (período de implementação do Plano Tecnológico), após 2011 iniciou-se um período de afastamento de Portugal face à média europeia. No IUS 2015 Portugal ocupa o 17º lugar, o mesmo lugar que ocupava no IUS 2008 (Figura 1).
Figura 1 - Evolução de Portugal no ranking europeu de inovação (IUS 2006-2015)
Fonte: Innovation Union Scoreboard (2010-2015)
Em 2010 (antes das políticas de austeridade), a performance de inovação de Portugal representava 78% da UE, tendo esse valor descido para 73% em 2014, ou seja, um claro processo de divergência. Essa divergência ocorreu em praticamente todas as áreas ligadas à inovação, como na qualificação dos recursos humanos, no financiamento à inovação, na propriedade intelectual, no impacto económico da inovação e, principalmente, nas atividades de inovação das empresas. De acordo com a Comissão Europeia, em 2010 Portugal era o 3º país com melhores resultados na inovação empresarial (de produto, organizacional ou processos), passando para o 15º lugar em 2015 (Figura 2).
Figura 2 – Posição de Portugal na UE nos grupos de indicadores que compõem o ranking europeu de inovação
Fonte: Innovation Union Scoreboard (2010-2015)
Estes dados traduzem o desinvestimento das políticas públicas na ciência, tecnologia e inovação, bem como o menor investimento do setor privado nestas áreas. De facto, a orientação política atual em Portugal tem sujeitado as empresas a uma asfixia fiscal e financeira, que limita e diminui os seus recursos para as atividades inovadoras. Os indicadores disponíveis assim o indicam.
Após ter atingido um recorde em 2009, o investimento total do país em I&D diminuiu cerca de €500 milhões entre 2010 e 2013, um corte muito significativo em apenas três anos. Só no Estado, o corte do investimento em I&D nesse período foi cerca de 25%. Estes cortes levaram a que o investimento total do país em I&D passasse de 1,53% do PIB em 2010 (antes do “período troika”) para 1,34% do PIB em 2013, de acordo com os últimos dados disponíveis (Figura 3).
Figura 3 - Despesa em I&D em percentagem do PIB (1982 a 2013)
Fonte: IPCTN/Ministério da Educação e Ciência
As políticas de austeridade tiveram, também, impacto significativo sobre o número de investigadores e de pessoas a trabalhar na ciência e na I&D. De acordo com os dados do Ministério da Educação e Ciência, entre 2011 e 2013 o país perdeu mais de 6000 investigadores a tempo integral (ETI), ou seja, 14% do total em apenas dois anos (Figura 4). Mais uma vez, o Estado foi o setor mais afectado, tendo o seu número de investigadores diminuído mais de 40% nesse período.
Figura 4 – Recursos humanos em I&D 2011 e 2013 (nº pessoas)
Fonte: DGEEC/Ministério da Educação e Ciência (2015)
Estes dados, em conjunto com outros - como o menor investimento na inovação não-tecnológica ou a reduzida disponibilidade de financiamento às empresas - originou uma perda de capacidade de inovação de Portugal face á média da UE. Este facto é muito preocupante, dado que o crescimento e o desenvolvimento a prazo de um país estão correlacionados com o seu nível de investimento em inovação, na ciência e na produção de conhecimento. Além disso, a juventude e ainda imaturidade do sistema de inovação português requer um apoio continuado das políticas públicas e do investimento privado na inovação e em atividades de maior valor acrescentado. O desinvestimento em inovação pode comprometer, assim, a sustentabilidade competitiva do país. De relembrar que os países mais avançados, como os EUA ou os países nórdicos, têm décadas de investimento na C&T e na inovação.
As políticas públicas fazem escolhas, e escolher se há ou não investimento na ciência e na inovação é um desses casos. Mas sabendo que os principais responsáveis pelas políticas públicas são as pessoas (dado que são elas que elegem os políticos que querem), torna-se evidente qual o nível de exigência e de responsabilidade que todos nós temos. Cabe a cada um de nós escolher o futuro que queremos para Portugal, se a continuação deste desinvestimento ou se uma mudança para políticas orientadas para a inovação e o conhecimento!