Portugal no ranking europeu de Inovação (UIS 2013) - análise e factos

26-03-2013 15:34

 

Foi hoje publicada mais uma edição do Innovation Union Scoreboard - IUS 2013 (ranking europeu de Inovação), que compara o estado e o desempenho em termos de Inovação de cada um dos países da União Europeia. Portugal situa-se agora no 17º lugar na UE27 em termos de Inovação, tendo caído um lugar face à edição do ranking do ano passado. Antes de analisar a posição de Portugal neste ranking, convêm fazer as seguintes ressalvas:

  • O IUS 2013 é constituído por 24 indicadores, todos referentes a anos até 2011: 12 indicadores são de 2011, 9 de 2010, 2 de 2009 e 1 de 2008;
  • Significa isto que o UIS 2013 não considera, para o caso português, as medidas de apoio ao empreendedorismo e à inovação lançadas em 2011 e 2012, nomeadamente no âmbito do Programa Estratégico +E+I (aprovado em dez/2011),
  • Por seu lado, o UIS 2013 não contempla também o efeito das medidas de austeridade aprovadas em out/2011 (Orçamento de Estado para 2012);
  • Espanha alcançou Portugal no ranking de inovação, posicionando-se ligeiramente à frente quanto ao valor do índice;
  • O país imediatamente atrás de Portugal é a República Checa, com um valor de índice muito próximo do de Portugal;
  • Nos últimos 6 anos, Portugal cresceu acima da média da UE27 no ranking de Inovação, passando do grupo dos países em “cathing-up” (22º lugar, em 2007) para o grupo de países “moderate innovators” (17º lugar, no IUS 2013)

 

No que respeita à posição global de Portugal nos indicadores do IUS2013, Portugal está acima da média da UE27 no que respeita aos seguintes indicadores:

  • Número de novos doutorados
  • Publicações científicas internacionais em co-autoria
  • Inovação interna das PME
  • Introdução de inovação de produto/processo pelas PME
  • Inovação organizacional/marketing pelas PME.

 

Em todos os outros indicadores, Portugal encontra-se abaixo da média europeia (embora muito próximo da média no indicador despesa pública em I&D, nos gastos das empresas em inovação não tecnológica, no registo de designs comunitários e na venda de novos produtos no mercado pelas empresas).

 

Se olharmos para a evolução (performance) dos indicadores em Portugal, constatamos uma evolução acima da média da UE27 nos seguintes indicadores:

  • População (entre 30-34 anos) com Ensino Superior (19,8% em 2007 para 26,1% em 2011)
  • Jovens (20-24 anos) com Ensino Secundário (53,4% em 2007 para 64,4% em 2011)
  • Abertura e internacionalização do sistema científico (nº de alunos estrangeiros; publicações científicas)
  • Colaboração entre empresas inovadoras
  • Registo de Propriedade Intelectual: registo de patentes e de marcas comunitárias
  • Efeitos económicos da inovação: emprego nas atividades intensivas em conhecimento; exportação de serviços intensivos em tecnologia; vendas de produtos novos no mercado

 

Estes dados positivos refletem a aposta das políticas públicas (nomeadamente desde 2005) em termos de qualificação da população jovem e população da ativa, de internacionalização do sistema científico e tecnológico, nos incentivos à inovação empresarial e na aposta em atividades mais intensivas em conhecimento.

 

Contudo, há que reconhecer que Portugal partiu de uma base mais baixa que a média europeia em termos de inovação, dados os problemas estruturais da nossa economia em termos de qualificações (50% da população tem, no máximo, 6 anos de escolaridade), das características no nosso tecido empresarial (o nível de habilitações dos empresários é o mais baixo da UE27; 95% das empresas não exportam) e do funcionamento do sistema nacional de inovação (falhas sistémicas; acesso ao financiamento).

 

A descida de um lugar de Portugal no IUS 2013 demonstra que é necessário que Portugal prossiga a aposta na Política de Inovação, mais orientada para maiores impactos na economia e na sociedade, mas também para uma maior abertura do próprio processo de inovação, estimulando as redes de cooperação, as parcerias tecnológicas, a capacidade de absorção do conhecimento pelas empresas, a comercialização da propriedade intelectual, etc. Relembre-se que, já em 2012 Portugal, era apenas o 22º país na UE27 em termos de impactos económicos da inovação, apesar dos bons resultados relativos em termos de inputs.

 

Assim, o desafio para os próximos anos terá de passar por estimular ativamente a inovação (aberta) a todos os níveis, desde as empresas, ao sistema científico e tecnológico e à Administração Pública. Num quadro macroeconómico europeu de austeridade, que parece teimosamente persistir, os maiores desafios para o nosso país, de acordo com os indicadores europeus, passam por continuar a aposta na qualificação da população ativa, combater o abandono escolar (que continua o mais elevado na UE27, apesar da espetacular diminuição de 37%, em 2007, para 23%, em 2011, fruto das reformas no sistema educativo), bem como incentivar a valorização do conhecimento gerado pelo sistema científico e tecnológico e pelas empresas. Só assim se conseguirá ter uma economia orientada para o crescimento “inteligente”, baseado no conhecimento e num maior valor acrescentado.