Porque precisamos de uma Diplomacia para a Inovação
Após um período de convergência com a União Europeia (UE) em termos de capacidade de inovação (de 22º para 15º lugar, entre 2006-2011), o impacto das medidas de austeridade fez-se sentir negativamente nas áreas da inovação e da ciência, levando a que Portugal caísse três lugares entre 2011-2014 (15º para 18º lugar). Reparar os danos causados no sistema de inovação e retomar a trajetória de convergência de Portugal com a UE vai demorar anos, dado que a formação avançada de recursos humanos, a requalificação da população adulta, a atração dos trabalhadores qualificados que foram incentivados a abandonar o país, a recuperação do atraso provocado pela indefinição da política de clusters e da Agenda Digital ou o retomar das políticas de alteração do perfil de especialização da economia, serão tarefas que apenas terão impacto na economia a médio-longo prazo.
Acelerar esta recuperação é fundamental, dado que, a prazo, existe uma correlação significativa entre os países que ativamente estimulam a inovação e o crescimento económico (e só com crescimento é possível criar emprego de forma real). É neste sentido que os Estados, neste caso Portugal, tem de ter como interesse e desígnio nacional aumentar a sua capacidade de inovação.
Contudo, as políticas de inovação a definir em Portugal terão de considerar o carácter cada vez mais aberto e global do processo de inovação, derivadas das profundas alterações da economia mundial das últimas décadas (generalização das TIC na sociedade e na estrutura produtiva mundial, mobilidade dos trabalhadores a nível global, externalização da I&D por parte das empresas multinacionais, crescente mobilidade do conhecimento e da tecnologia e facilidade do seu acesso, etc.). A nova geração de políticas de inovação terão de ser em consideração esta realidade. As boas notícias é que a maior parte das políticas necessárias não necessitam de recursos financeiros adicionais, podendo ser desenvolvidas através da reorientação e da coordenação de outras políticas públicas (e de iniciativas privadas) já existentes, bem como através de uma articulação mais eficaz da política externa para a área da inovação.
A atual diplomacia económica necessita de ser afinada para uma diplomacia de inovação (innovation diplomacy), promovendo Portugal como destino de investimento na área da ciência, das tecnologias e da inovação, mas também tendo os mercados globais como potenciais destinos da tecnologia e inovação desenvolvida em Portugal. Neste último aspeto, temos bons exemplos, como nos sistemas de pagamento, nas tecnologias educativas, no software, nas energias renováveis, na mobilidade sustentável, no governo eletrónico, nos têxteis técnicos ou mesmo na aeronáutica e aeroespacial.
Para uma diplomacia de inovação, a representação externa de Portugal pode ser importante a vários níveis - embaixadas, consulados, representações permanentes na UE, na OCDE e noutras entidades - sendo o elo de ligação-chave com os mercados globais para aumentar a capacidade de inovação em Portugal. Por exemplo:
- Na inserção das empresas e das entidades de investigação nas redes internacionais de conhecimento e de I&D, sendo fundamental o papel dos delegados nacionais, dos técnicos e de outros portugueses em organismos internacionais, ao nível técnico e de “esclarecimento estratégico”;
- Na captação de capital de risco e dos fundos soberanos internacionais para projetos de inovação e de I&D que envolvam entidades nacionais;
- Na atração de recursos humanos qualificados para áreas atualmente em défice em Portugal (como as TIC);
- Na criação de condições para atrair “talento” e jovens empreendedores internacionais para desenvolver projetos empresariais em Portugal;
- Na promoção externa das tecnologias e conhecimento gerado em Portugal, estimulando o seu potencial de valorização nos mercados internacionais;
- Na internacionalização das start-ups e spin-offs nacionais, através da articulação ativa com os principais centros mundiais de incubação e fundos de investimento;
- Na recolha de informação, de boas-práticas e de oportunidades de desenvolvimento tecnológicos a nível global, de forma a criar oportunidades de investimento para as entidades nacionais.
São apenas alguns exemplos de como a política externa pode exercer uma ativa diplomacia para a inovação. Há, contudo, um fator fundamental para que se possa desenvolver a diplomacia para a inovação – a clarividência política da importância da inovação para o progresso e o crescimento. Esperemos , assim, por 2016.