O ano do Azerbeijão

22-09-2012 12:12

 

Frequentemente são divulgados relatórios e rankings que comparam os países no que respeita a várias áreas da economia, sendo considerável a atenção que lhes é dirigida por parte de vários agentes da sociedade (empresários, políticos, comunicação social, etc.), apesar de metodologicamente serem várias as reservas que se levantam em muitas das situações. Mas compreende-se a necessidade de se ter alguns referenciais de comparação que permitam ter uma noção aproximada da realidade.

Tomemos como exemplo o recente relatório do World Economic Forum sobre competitividade (GCR - Global Competitiveness Report 2012-2013), onde é possível identificar algumas limitações metodológicas (como em qualquer ranking, diga-se):

  • O GCR é constituído por indicadores estatisticos fatuais (basicamente EUROSTAT/OCDE) e por indicadores recolhidos por inquéritos (ou seja, baseados na percepção que quem responde a esses inquéritos tem sobre o seu país);

  • Os indicadores reportam sempre a anos anteriores: por exemplo, os dados do GCR 2012-2013 reportam a dados de 2011 ou mesmo a anos anteriores, em alguns casos (ou seja, não refletem a realidade do país no momento em que sai o relatório);

  • O cálculo do índice de competitividade depende sempre das ponderações que forem atribuídas a cada indicador/pilar: por exemplo, o GCR 2012-2013 considera mais importante para a competitividade a eficiência dos fatores (ex. Mercado de Trabalho, Mercado de Bens, Mercados Financeiros) ou os “requisitos básicos” (Instituições, Infraestruturas ou Ambiente Macroeconómico) - que tem um peso de 70% no cálculo do Índice final de Competitividade - do que a Inovação e a Sofisticação dos Fatores (com um peso de apenas 30%);

  • As respostas aos inquéritos (que medem a percepção, não necessariamente a realidade) podem ser enviezadas pelo enquadramento cultural, social, económico e político existente em cada país (por exemplo, a corrupção pode ser entendida e percepcionada de forma diferente consoante o país). 

Feito esta ressalva – importante para se perceber melhor que os rankings e indicadores podem ter sempre várias interpretações (e resultados, dependendo da forma como são construídos) - há que dizer que nem tudo são más noticias em Portugal. De acordo como GCR 2012-2013, ao nível macroeconómico a situação está longe de ser positiva, mas há áreas em que Portugal está bem posicionado a nível mundial, refletindo as prioridades e as escolhas governativas ao longo das últimas décadas, destacando-se as áreas da Educação, Saúde, Infraestruturas e das Tecnologias. Por seu lado, é ao nível da eficiência dos mercados onde Portugal encontra as suas principais debilidades.

O GCR 2012-2013 refere também que Portugal encontra-se relativamente bem posicionado e tem vindo a melhorar ao nível das Infraestruturas (estradas, comunicações, portos ou fornecimento de energia), nos indicadores de Saúde (mortalidade infantil, esperança de vida à nascença), Educação (Ensino Básico, Ensino Secundário, Ensino Superior), I&D - Investigação e Desenvolvimento, na Inovação (investigadores disponíveis, qualidade do sistema científico e de I&D, colaboração empresa-universidades em I&D, registo de patentes ou procura pública para a inovação), preparação tecnológica (adoção de novas tecnologias, disponibilização e utilização de Internet de Banda Larga – fixa e móvel – ou transferência tecnológica) ou ambiente para os negócios (criação de empresas e simplificação administrativa).

Por seu lado, o mesmo relatório (Global Competitiveness Report 2012-2013) refere que a competitividade da economia portuguesa está limitada pelo ambiente macroeconómico (défice público, poupança nacional, dívida pública), pela fraca eficiência dos mercados (impostos, concorrência, sofisticação dos consumidores, sofisticação dos negócios/empresas), pelo mercado de trabalho (contratações e despedimentos, flexibilidade salarial, produtividade), bem como pelo graul de desenvolvimento dos mercados financeiros (empréstimos às empresas, capital de risco ou serviços financeiros).

Há que lembrar que a evolução dos países em termos de competitividade e as classificações positivas e negativas nos vários indicadores depende muito das opções tomadas pelos agentes económicos e políticos de cada país (e, em certa medida, das condicionantes externas), podendo-se verificar flutuações significativas em alguns casos (e mesmo em poucos anos). Assim, as prioridades conjunturais e estruturais, os contextos económicos e sociais, as condicionantes externas e internas, ou as opções ideológicas são algumas das variáveis que influenciam a evolução dos indicadores e, também, a competitividade de um país.

Resta-me terminar dando os parabéns ao Azerbeijão, que segundo esta metodologia do Global Competitiveness Report ultrapassou Portugal em termos de competitividade...