As pessoas contam
"As pessoas contam", referiu Durão Barroso no lançamento do Prémio Europeu de Inovação Social, no dia 1 de Outubro, na Fundação Calouste Gulbenkian. Este prémio é dirigido a todos os cidadãos europeus e visa estimular o desenvolvimento de ideias e de novas soluções que melhorem a qualidade de vida das pessoas e das comunidades locais (ver https://www.socialinnovationcompetition.eu).
Esta iniciativa surge num período conturbado para a Europa, quer do ponto de vista político quer económico, em que são muitos os desafios que se colocam no processo de construção europeia. Sabemos que a crise originada nos mercados financeiros nos EUA teve repercussões enormes na economia real – recessão económica, aumento sem precedentes da taxa de desemprego, aumento dos níveis de pobreza. Sabemos também que os mecanismos de ajustamento e de governação na Europa (UE27) se mostraram insuficientes (ou, se quisermos, pouco adequados) para fazer face a este “choque exógeno” e à situação em que nos encontramos atualmente. Mais do que procurar as causas e os responsáveis pela crise financeira (aconselho a ler o relatório de averiguações do Senado dos EUA, que identifica claramente quem são…), crise essa que rapidamente se alastrou à Europa, importa saber de que forma queremos (e podemos) desenhar os caminhos que nos levem a superar a atual situação.
De acordo com o Presidente da Comissão Europeia, importa refletir a Europa num horizonte de longo-prazo, no sentido de estimular o crescimento económico e, ao mesmo tempo, preservar o modelo social europeu. Esta visão implica claramente uma escolha política, assente na economia real e não apenas na economia nominal. Uma visão de desenvolvimento económico, nas suas várias dimensões - económica, social e ambiental - em que o objetivo central seja o bem-estar geral e a melhoria da qualidade de vida das populações. Eram estes os objetivos da Estratégia de Lisboa e são esses os objetivos da atual estratégia Europa2020 (aprovada em 2010 por todos os Estados-membros), e que define as prioridades para a UE27 em termos de crescimento, emprego, coesão social e sustentabilidade ambiental. A UE27 tem, assim, uma estratégia de desenvolvimento de longo-prazo assente no Conhecimento e na Inovação, fundamentais atingir maiores níveis de competitividade, mas também de coesão social e de sustentabilidade. O desafio maior que se coloca é na sua operacionalização, tendo em conta o contexto atual da UE27:
- Que grau de compromisso político existe atualmente entre os líderes europeus para uma estratégia de desenvolvimento de longo-prazo?
- Como desenhar uma política de inovação mais aberta e inclusiva, orientada para as pessoas e para as necessidades das populações e das empresas?
- Como envolver os cidadãos no processo de formulação política?
- Como conciliar o crescimento económico com um modelo social que preserve uma qualidade de vida adequada às expectativas dos cidadãos europeus?
Sei que falar destes temas numa altura em que o debate mediático se centra na consolidação das contas públicas e nos problemas de liquidez das economias europeias parece desajustado. Mas certamente que o problema das “contas públicas” não terá uma resposta adequada se não houver uma estratégia clara e integrada para o crescimento, a inovação e para o desenvolvimento, em que o foco principal seja as pessoas e o bem-estar global da sociedade europeia.